segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Confissões

O desespero da vida é descobrir que todos estamos sozinhos. Mesmo nos dedicando uns aos outros, negando o ego, carregando cruzes e vivendo em nome de Deus, toda a caminhada até a eternidade é solitária. Da solidão, amigos, e de sua relação com o anseio constante por uma Eternidade aparentemente inatingível nasce a angústia do existir, a única que nos acompanha até o fim.

sábado, 11 de agosto de 2012

Fim

Acabou nosso amor, meu amor.
Acabou nosso amor.
Termina esse teu café, dá cá um abraço e segue adiante.
Viva, se realize!
Deguste a vida, do aroma à digestão.
Seja você. Segue essa trilha.
Mas vai sem mim, não posso te acompanhar.
Constrói o teu edifício, mas não conta comigo dentro dele.
Sou itinerante, amor, não posso me estabelecer.
Já vou. O vento sopra e eu vou com ele.
Sorria, tua vida é outra.
Minha vida é essa.
É um fim pra outros começos.
Só um fim.

sábado, 14 de julho de 2012

Eu vi de longe a ruína que se aproximava.
Fui atingido antes de a alma poder emitir um gemido.
É a dose de veneno da vida,
Ou o toque o toque do diabo que carrega a permissão divina.
Não importa, não mais.
Em meio a dúvidas e acusações
Aguardo Deus vir para me questionar
Para eu ter a certeza de que ele estava ouvindo tudo.

domingo, 8 de julho de 2012

Fênix

Olha ela caída no chão
Muitos pensam que ela está morta
Mas ela ainda respira.
Olha aquela ferida no peito
Sangra, mas brilha,
É o brilho de uma alma que nunca se apaga,
Que tem vida demais,
Que transborda e extrapola de tanto viver.
Olha ela que olha o horizonte,
Tem tanta vida que fecha a ferida,
Levanta-se num salto,
E a passos de dança avança
No compasso do viver
Em busca do além do horizonte.


Para Giulia Fiorani.

domingo, 24 de junho de 2012

Anseio pela cegueira

Depois de estender a roupa eu quis apagar a luz do mundo.
Num movimento fluente e espontâneo estendi a mão ao interruptor.
Toquei o vento, estranhei o movimento e me dei por mim.
E a luz estava acesa.
Era aquele sol brilhando estranhamente num pano de céu azul.
Senti-me fraco, impotente.
É que o mundo não se apaga ao meu bel prazer.
Eu não posso garantir a escuridão da minha noite.
É que essa claridade me fere.
Tantas possibilidades à luz do dia
E uma decepção para cada uma delas.
A garantia da noite feliz que me escapa.
A dor das escolha que me pesa.
Cada possibilidade que me afronta.
E eu só queria apagar a luz.

Fé?

É daquele desespero que é comum a todos.
A mim, particularmente, têm sido dado o aprendizado de que a fé é só seguir, acreditando que Deus há de conduzir tudo. Sem resposta, sem direção, sem nada.
Veja se essa Fé não possui suas raízes no desespero!?
O peso da escolha pesa nas mãos de cada um, é o meu fardo o que é enchido pelas consequências.
Mas é sempre silêncio. Sempre. É sempre frio também.
Talvez a Fé seja um composto complexo, uma espécie de sistema.
Talvez seja andar, acreditar que Ele faz sem dar respostas e construir a certeza de boas consequências.
A ausência de consequências também é puro desespero.
Entenda, minha metafísica é relacional, é necessário concretude, materialidade que irrompa da transcendência.
Talvez a Fé não seja nada.
Talvez seja apenas olhar para o alto, dar um sorriso e seguir adiante.
Talvez se faça como a rosa e seus espinhos, como o caminho solar que se põe no fim do dia.
Talvez o cotidiano arroz com feijão.


Mas não é o nada o solo de onde brotam todas as coisas?

sábado, 18 de fevereiro de 2012

CARNAVAL

É sábado. Posso ouvir o ritmo inteiro construído em meio a tanto silêncio.
Silêncio. Silêncio com cheiro de corpos, corpos vivos, desgastando uns nos outros toda sua vitalidade.
A morbidez dos meus poemas também me incomoda, não se sinta tão só nesse instante.
É a bestialidade assumida com orgulho por todos estes indivíduos à tua frente que me faz violentamente nausear.
Joga o teu corpo fora, e a tua consciência esconde num baú acorrentado no fundo dessa tua alma embriagada, abraça nesses cinco dias o teu puro sentir para, no fim, te envolveres em tuas próprias cinzas.
Bebe, te embriaga, e sem memória te suportarás no restante dos dias.
Lança-te sem destino, perde-te por inteiro.
Desejo-te sorte na tua futura jornada em busca de si.