domingo, 24 de junho de 2012

Anseio pela cegueira

Depois de estender a roupa eu quis apagar a luz do mundo.
Num movimento fluente e espontâneo estendi a mão ao interruptor.
Toquei o vento, estranhei o movimento e me dei por mim.
E a luz estava acesa.
Era aquele sol brilhando estranhamente num pano de céu azul.
Senti-me fraco, impotente.
É que o mundo não se apaga ao meu bel prazer.
Eu não posso garantir a escuridão da minha noite.
É que essa claridade me fere.
Tantas possibilidades à luz do dia
E uma decepção para cada uma delas.
A garantia da noite feliz que me escapa.
A dor das escolha que me pesa.
Cada possibilidade que me afronta.
E eu só queria apagar a luz.

Fé?

É daquele desespero que é comum a todos.
A mim, particularmente, têm sido dado o aprendizado de que a fé é só seguir, acreditando que Deus há de conduzir tudo. Sem resposta, sem direção, sem nada.
Veja se essa Fé não possui suas raízes no desespero!?
O peso da escolha pesa nas mãos de cada um, é o meu fardo o que é enchido pelas consequências.
Mas é sempre silêncio. Sempre. É sempre frio também.
Talvez a Fé seja um composto complexo, uma espécie de sistema.
Talvez seja andar, acreditar que Ele faz sem dar respostas e construir a certeza de boas consequências.
A ausência de consequências também é puro desespero.
Entenda, minha metafísica é relacional, é necessário concretude, materialidade que irrompa da transcendência.
Talvez a Fé não seja nada.
Talvez seja apenas olhar para o alto, dar um sorriso e seguir adiante.
Talvez se faça como a rosa e seus espinhos, como o caminho solar que se põe no fim do dia.
Talvez o cotidiano arroz com feijão.


Mas não é o nada o solo de onde brotam todas as coisas?