sábado, 7 de dezembro de 2013

Desnecessário

Tu podes me dizer o que é o amor?
Podes?
Tu podes me definir clara e distintamente
Com todos os teus elaborados conceitos
O que é isso a que chamamos amar?

Podes tu dizer-me, definindo,
Que potência é essa que nasce
Dentro de ti e te impele a fazer
De tudo o que te vai contra
Só pra ver algum outro sorrir?

Não, não podes. Ninguém pode.
O que fazes, fazes e não te perguntas por quê.
Quando vês já está lá, entregue a puros sorrisos
Incandescentes, mergulhado na alegria profunda
Do outro, que te alegra por se alegrar.

Me definirias tu o teu amor?
Pra quê? Pra dizer que te
Dominas e conheces e sabes de tudo?
Esquece isso, vai e ama.

Pois ao amor basta amar.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Abismo

Hoje não servem os livros, os filmes nem as músicas. 
Hoje não me serve o frio e não queria o calor. 
Hoje. Agora. 
Nada me serve. As roupas encurtam, 
A alma sufoca e o coração encolhe. 
Hoje não é quarta, não é 14, 
não é 2013, não é 08 nem Agosto: 
Ao hoje chamo apenas angústia.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Quem quiser ganhar a própria vida acabará por perdê-la, mas...

Aquele que não tem a vida por preciosa e deixa-se perdê-la acaba por abandonar toda uma vida mimética, deixa de lado uma vida superficial baseada em simulacros de existência e, vazio de todos os excessos de si mesmo, encontra-se mergulhado nas profundezas de uma vida abundante.

domingo, 21 de julho de 2013

Amores passados

Ah se elas soubessem o que
Eu pensava a respeito delas.
Se elas soubesses o quanto eu ainda amava,
Quanto sangue eu ainda daria,
O quanto esse amor ainda lutava pela vida.

Ah, se elas soubessem
O personagem que eu criei,
O esforço do silêncio,
O que eu menti.
Meus olhos mentiam,
Meus lábios, ombros, mãos.

Se elas soubessem dos sonhos, das idealizações.

Se elas soubessem,
Teríamos nos perdido mais?
Brigado mais? Ferido mais?
E se eu tivesse rido no final,
Teria sido eterno o nosso amor?

Importaria se nunca soubéssemos de nada disso?

Ah, mas se eu pudesse viver tudo de novo,
De novo eu seria feliz e ainda mais
Pois só o momento me importaria.

domingo, 30 de junho de 2013

Nota


O resto de café no fundo da caneca minutos ou horas depois de acordado, fervido, coado e cheirado. Aquilo que já me foi blasfêmia hoje se faz poesia. 

domingo, 23 de junho de 2013

Devaneio Cotidiano

O som é Marvin Gaye. Rio de Janeiro, 23 de Junho de 2013. Ano de expectativas particulares e universais, primeira semana após a explosão de manifestações que despertou o povo brasileiro inteiro pra sua participação na política nacional. Uma vitória, inúmeras divisões e a esperança dos coerentes de que um ponto comum e saudável seja alcançado e todos marchem por ele até o fim. Particularmente, penso sobre amores, trabalho, dores, prazeres, Europa. No fim das contas resta o questionamento de se, bem no fundo, não é só sobre isso que pensam todas as pessoas do mundo.
Rio de Janeiro, 20º? Tá por aí. Dia nublado raro, dois dias depois do início do inverno. De uns tempos pra cá espera-se sempre um verão cada vez mais quente e um inverno cada vez mais frio. Quais as possibilidades de nevar no Cristo Redentor? Ia ser uma visão bacana. Mas isso é devaneio de quem tem o privilégio de morar pra além do Centro. Aqui, espero a neve sobre os barracos do Complexo do Alemão, o contraste com o teleférico do conjunto de favelas, a reclamação sobre a falta de agasalhos pra esse frio no ônibus lotado em meio ao trânsito parado no viaduto de Benfica. Fica sempre a dúvida se as pessoas ignoram a beleza do cotidiano em que vivem ou se elas estão tão inseridas nele que são, elas mesmas, a própria beleza de tudo.
Domingo, dia Cristão do Senhor. Admiradores do Papa a essa hora já almoçam com suas famílias, pastores correm pra casa a fim de chegar a tempo ao culto da noite e os padres, bem, dos padres eu não sei o que dizer, só que às vezes gosto muito mais deles. Será que Cristo via os dias em cores diferentes? “Ah, segunda-feira é dia de trabalho árduo. Terça-feira é dia de Jejum, à noite tem reunião de oração na casa do Levi, quem não for vai perder a benção! Ó, nem sai da cama no Sábado pra não pecar contra O Senhor, hein, Pedro! Aí pessoal, Domingo tô ressucitando, te espero lá! #PartiuInferno” Quase tão difícil de imaginar quanto ver o mesmo cara que diz ter jugo suave e fardo leve quebrando mesas e jogando mercadorias pelo chão do Templo. Ora, um cara que faz colheita pra matar a fome num Sábado judeu não profana a santidade do dia, mas expande essa santidade pra todos os outros dias e todas as demais obras. Mas isso é devaneio sem fim, melhor guardar o pensamento pra não confundir ninguém.
Hoje escrevi no facebook sobre impossibilidade de falar do Evangelho prum cachorro. Agora imagina a cena: você sentado no chão, no meio da rua, com folhetos evangelísticos na mão falando da cruz pra um vira-latas preto, com a língua pra fora. Mas sabe, no fim das contas nada disso vale a pena discutir. Peco contra minha própria convicção quando me presto a discutir sobre isso em vez de ignorar e continuar vivendo.

 Temas no pensamento voam como palavras aladas. Devanear deitar na grama no fim da tarde e olhar as nuvens, acompanhar o devir das formas, imaginar as possibilidades e deixar tudo se desfazer com as gaivotas que migram pra qualquer lugar. Devanear é admirar a beleza do caos dentro de si, é ver solto e desordenado tudo aquilo que nos compõe de verdade. Devanear é se deixar conhecer por si mesmo, é o infinito que só a gente mesmo pode ver e só compreende quando a finitude exterior permanece em seu lugar de origem. Devaneio é auto conhecimento, é liberdade interior que de nada depende para se afirmar, sem ponto de apoio em que se sustentar. Devaneio é instante de liberdade. Quantas vezes fomos livres hoje?

segunda-feira, 18 de março de 2013

Riso


Foi ontem.
Bendita rede, inspiração do nordeste.
E que imagens nascem caleidoscopicamente
Desse teu dourado!
São lembranças inventadas,
Expectativas vindouras.

Ah, meu amor, tudo é riso!
Então sorri, juntos gargalhemos
Pois no riso, sorrindo, somos completos,
Parte, em tudo, do todo.

Risco de Nós


Abre as tuas asas e experimenta caminhar no céu.
Sim, é um desafio.
E se pisar para além do penhasco
For o movimento último
Para se encontrar a feliz liberdade?

Ah, que anseio universal!

Alçar vôo é risco, não nego.
Mas houve alguém, um dia,
Que amaldiçoou as doces expectativas
Do arriscar-se?
É um salto.

Você sabia o que eu ia dizer:
Tudo é risco.
Eu arrisquei olhar nos teus olhos
Fiquei preso no teu sorriso...
Toda lembrança de você é um risco,
E toda expectativa!

E me projeto num futuro ideal
Onde às duas da manhã,
Sob a luz do abajur,
No frio da madrugada,
Vestidos de moletom e regados a café -
Ou vinho, tanto faz -
Nos afogamos, perdemos as horas
A noite inteira submersos
Em incríveis assuntos intermináveis.

sábado, 2 de março de 2013

Cotidiano


E olha que eu já quis cantar tantas canções sobre tudo dentro de mim, que até perdi a conta.
Sabe, te cantei tudo o que podia e tudo o que sabia e tudo o que eu me exigia. Era só pra você, só pra esse olhar tão penetrante.

Sabe, essa tua expectativa sempre me violou. Não me julgue pelos meus sonhos, eles são apenas meios, instantes ocasionais. Importa o fim e o fim é despretensioso. Quero sentar no sofá, te olhar na cozinha, pegar a criança no colo, de tarde coar o café e te dar um beijo despretensioso, embalados pelo cheiro do café no ar.

Quero massagear seus pés à noite, depois de um dia inteiro de trabalho, tomando vinho tinto, ouvindo Coltrane. Te puxar pelos tornozelos, ser abraçado pelas suas pernas, te beijar com as mãos na sua nuca e te olhar nos olhos enquanto os narizes se tocam.

É cotidiano, despretensioso. Tem bafo, chulé, stress, tpm, individualidade, defeito, diferença, vc querendo ver a novela e eu querendo tocar violão. Eu querendo começar a ver Arquivo X e você viciada na terceira temporada de ER.
Tem eu e vocë orando juntos depois de uma conversa acidental sobre a plenitude do Espírito, com fotos nossas do inverno em Copenhagen.

É a gente assim, cotidiano. Tão despretensioso que parece ideal demais.